Eram 21h de um segunda quando Mariana se deitou para dormir. Quinze minutos depois, ainda estava acordada. Sentia ansiedade, pensava sobre as tarefas do outro dia: em como iria se sair na reunião de trabalho. Se o almoço das crianças estava pronto, qual trajeto iria fazer para deixar o filho mais velho na academia, o mais novo na escola. Como iria trabalhar, se teria tempo de fazer sua caminhada e ainda separar um tempo para ler aquele livro que, há semanas, estava no criado mudo. Horas se passaram até que ela conseguisse dormir.
Acordou cansada por não conseguir ter uma noite de sono tranquila e pouco disposta a começar a semana. Chegou ao trabalho, não conseguiu se concentrar na apresentação, esqueceu algumas palavras, perdeu a hora de buscar as crianças e retornou para casa mais ansiosa e estressada que no dia anterior.
Estes são alguns sintomas de quem sofre ansiedade, uma epidemia por prevalecer em mais da metade do mundo.
Índice
Ansiedade em números
Ansiedade vs gênero
Mulheres como chefes de família
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) as Américas lideram os índices de prevalência de ansiedade e o Brasil ocupa a primeira posição em ranking mundial.
O reflexo disso no ambiente de trabalho é claro. Um levantamento feito pela Secretaria da Previdência Social, no ano passado, apontou que enfermidades caracterizadas como transtornos ansiosos ocuparam a 15º posição dentre os motivos de afastamento de pessoas do ambiente de trabalho. No total foram 28.9 mil casos de afastamento.
As mulheres são as mais acometidas com transtornos como ansiedade e depressão, assim como distúrbios alimentares. Parte disso vem de uma constante pressão em atingir um padrão de beleza inalcançável e a dupla jornada de trabalho que muitas enfrentam, foco deste artigo.
Segundo o Instituto de Pesquisa Economicamente Aplicada (Ipea) no estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça (2017), as mulheres trabalham 7,5 horas a mais que os homens durante a semana. Mais de 90%, afirmam fazer todas as tarefas domésticas, índice que se manteve constante nos últimos 20 anos.
Com este quadro social, a considerada família tradicional está dando espaço para outras configurações familiares. Segundo o estudo citado anteriormente, casas em que moram um casal heterossexual e filhos só correspondem a 42% dos entrevistados, ou seja, houve uma queda significativa de 27,58% nos últimos 20 anos.
Dos lares brasileiros, 40% são chefiados por mulheres. No passado essa configuração era influenciada pelo aborto paterno – quando um homem abandona mulher e filhos, cortando relação com ambos -, mostrando um grande fator de vulnerabilidade social destas famílias.
Atualmente vemos uma mudança quando se trata do assunto: 34% destes lares possui uma figura masculina, o cônjuge/companheiro dessas mulheres. Em famílias de casais sem filhos, desta vez segundo o IBGE, em 2001 as mulheres comandavam 339 mil lares e em 2015 3,1 milhões, um salto de 822%. Já em casais com filhos, o número passou de 1 milhão para 6,8 milhões, alta de 551%.
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